ROMANTIZAÇÃO EM LIVROS | ABUSO, PEDOFILIA E VIOLÊNCIA

Vamos falar de três livros aqui: Lolita, 50 Tons de Cinza e a HQ do Coringa. Parece meio óbvio o que será dito aqui, mas histórias de pe...



Vamos falar de três livros aqui: Lolita, 50 Tons de Cinza e a HQ do Coringa. Parece meio óbvio o que será dito aqui, mas histórias de pedofilia como em Lolita, relacionamento abusivo em 50 Tons de Cinza e violência como no caso de Coringa e Arlequina em suas HQs não é romance!

O famoso livro Lolita conta a história de Humbert Humbert, um homem de 40 anos que vai para o Estados Unidos depois de se divorciar. Ele aluga um quarto na casa de Charlotte Haze, uma viúva e mãe solteira de uma menina de 12 anos de idade, chamada Dolores - uma ninfeta, segundo Humbert (Significado de ninfeta: adolescente com delicadeza de uma jovem, mas sensualidade de uma mulher).

Humbert se casa com a mãe de Dolores para se aproximar ainda mais da menina, chamada carinhosamente de Lolita pelo seu novo padrasto. O livro foi adaptado duas vezes para o cinema, mas para variar, o público entendeu o contrário da mensagem do autor.

Por ser narrado pelo homem, ele se diz apaixonado pela menina, romântico e manipulado - veja bem, um homem de 40 anos manipulado por uma criança de 12 anos - e então a história é centrada nele, em suas fantasias pedófilas. O problema é que o público acredita que é apenas um homem querendo fazer a sua "amada" feliz.

Lolita é nada. É ninguém. Humbert roubou dela sua própria história e substituiu pela sua versão. Roubou sua identidade, sua inocência e sua humanidade. Transformou suas brincadeiras em movimentos provocantes, seu corpo infantil em objeto de desejo, seus sorrisos em potenciais beijos… Tudo que ela fazia o seduzia de alguma forma, mas seria essa a verdadeira intenção da menina? São tantas resenhas e críticas caindo direitinho nas palavras de Humbert, que me pergunto o quão fácil é jogar uma história obscura sobre abuso sexual infantil para baixo do tapete, apenas disfarçando-a de amor, com palavras bonitinhas e interpretando uma vítima?

Humbert precisava fazer com que as pessoas não o odiassem, e se ele desse voz à menina que abusou psicologicamente e sexualmente durante tantos anos, acabaria estragando tudo. É por isso que Lolita não existe.



Um exemplo de relacionamento abusivo romantizado tanto pela autora quanto pela mídia é a série de livros e também o filme 50 Tons de Cinza. Nela, Anastasia conhece um magnata, Christian Grey, e começam a ter um relacionamento. Depois ela descobre que ele tem gostos sexuais "peculiares".

Aparentemente, a suposta preocupação e cuidado do Mr. Grey são vistos como a mais profunda forma de demonstração de afeto. Eu até entendo que algumas pessoas desejem um cara como ele. Afinal, no próprio livro, ele é o pica das galáxias que se apaixona por uma garota comum, não merecedora de ter um relacionamento com um cara cobiçado e bem-sucedido. Mas, mesmo assim, ela é a única pessoa que ele quer e, por isso, faz de tudo para “conquistá-la”. O interesse se torna mútuo, então ela começa a descobrir o universo em que ele vive e a lidar com os tais gostos sexuais peculiares, mesmo que isso a faça se sentir mal.

É aí que entra o famoso relacionamento abusivo. Mr. Grey não quer apenas "conquistá-la". Perseguir, intimidar, tornar-se possessivo antes mesmo de terem qualquer relação como casal, avisar que é perigoso e que vai fazer mal a ela, porém, logo após isso, enviar presentes caros para sua casa (cujo endereço ele descobriu sem ela ter dado), rastrear seu celular para saber sua localização e levar Anastasia após ter bebido para o seu quarto de hotel NÃO configuram CONQUISTAR. Configuram um comportamento manipulador e doentio, cuja intenção é deliberadamente controlar a vida de Anastasia, antes mesmo de terem se beijado (não que isso seja aceitável em qualquer estágio de relacionamento).

O pior de tudo é que as pessoas acham isso bonito e romântico, será que estamos lendo o mesmo livro?! Veja só esse trecho: "Se você lutar, eu vou amarrar seus pés também. Se você fizer barulho, Anastasia, vou te amordaçar", apesar da autora dizer que ela gostou da relação sexual, não podemos negar que isso é estupro, encoberta pela autora como mais uma cena dessa história "romântica".



E para fechar, vamos falar de Coringa com Arlequina, que com o novo trailer do filme Esquadrão Suicida vem atraindo mais expectativas para ambos e consequentemente, mais fãs do "casal". A questão é: Coringa agride sua namorada das formas mais maníacas possíveis, tanto que Arlequina já esteve a beira da morte de tantas agressões que já sofreu. 

Inclusive, o fato dela não ser boazinha e ter sérios desvios de caráter, faz com que muitas pessoas encarem o fato dela sofrer tanto nas mãos do parceiro como “natural”, afinal ela merece, ou ela gosta.
Mas ela não gosta de apanhar, ela gosta do Coringa.
O Coringa é o elemento errado na equação desse relacionamento. Ele é invejoso, egocêntrico, manipulador e narcisista… E vê na Arlequina um grande potencial para superá-lo, ele tem medo da superioridade dela, e por isso tenta suprimi-la. Ele a vê como uma coisa, um objeto pessoal, um brinquedo que está ali para suprir suas necessidades, e não para ter existência e necessidades próprias.
Violência de tipo nenhum é legal e muito menos romântico, então parem de romantizar Coringa e Arlequina.

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